Paula, uma garota de programa no Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro nunca dorme de verdade. Há sempre um farol aceso, uma música distante, um cheiro de maresia misturado com a cidade viva, pulsante. E eu, Paula, caminho por essa cidade como quem conhece cada sombra, cada curva, cada respiração possível. Hoje é mais uma noite de trabalho — ou talvez de jogo — e eu já sei que, por trás de cada porta que cruzo, há desejos que não se revelam à luz do dia.
Entro no hotel com passos medidos. Meu vestido preto é simples, mas ajusta-se ao corpo como uma segunda pele. Não é sobre exibir, mas sobre sugerir. O salto alto me dá postura, mas também faz meu caminhar ser música própria. Cada passo é uma promessa silenciosa.
O saguão está cheio de vozes, risadas, vozes masculinas em timbres variados. Eles nem sempre me notam de imediato. Mas não preciso deles me notarem. Eu os observo primeiro. Cada homem tem um ritmo, um cheiro, uma tensão. Alguns são fáceis, outros mais difíceis de decifrar. Cada encontro é um desafio, um jogo em que eu conheço as regras, mas eles pensam que ditam o ritmo.
O elevador me leva até o andar que me espera. O tilintar metálico da porta se fechando é o início da cena. Respiro fundo, deixando a máscara que uso na vida cotidiana escorregar por alguns instantes. Aqui, sou eu, mas sou a versão que eles desejam — sofisticada, envolvente, inatingível.
Abro a porta do quarto e ele está lá. Um homem de meia-idade, terno impecável, olhos cansados que buscam algo que não sabem nomear. Eles sempre buscam. Alguns tentam esconder, outros se entregam de imediato. Ele parece nervoso, mas curioso. Curiosidade é uma fraqueza deliciosa, porque revela o que desejam antes mesmo de saberem.
— Boa noite — digo, voz firme, controlada, com um toque de calor.
— Boa… noite — ele responde, hesitando.
Sorrio levemente, apenas o suficiente para que perceba que não estou oferecendo nada de imediato. O poder está na pausa, na espera. Eles não percebem que estão em minhas mãos até já estarem imersos no jogo.
Ele se aproxima, tentando tomar a iniciativa, mas eu paro, ainda próxima o suficiente para que ele sinta meu perfume. Um aroma sutil de baunilha e algo indefinido, como se cada gota de essência tivesse sido escolhida para confundir e atrair.
— Sente-se — digo, apontando para a poltrona. — Não há pressa.
Sentar-se é um gesto de rendição silenciosa. Ele entende, mesmo que inconscientemente. Minha profissão é mais do que sexo; é leitura, controle, sedução, e eu domino cada detalhe. Cada olhar, cada gesto, cada hesitação.
Enquanto ele se acomoda, observo as mãos. Elas dizem muito. Alguns escondem, outros delatam a ansiedade. As mãos dele tremem levemente. Bom. Isso é bom. Mostra que ele quer, mas não sabe o quanto. E eu quero que ele queira, sem pressa, sem comando. Quero que o desejo construa cada movimento.
A conversa começa de leve. Ele fala de trabalho, viagens, trivialidades. Eu escuto, sorrio, intervenho quando preciso. Cada palavra que digo, cada gesto que faço, é calculado. Não por manipulação, mas por experiência. Eu sei o que excita, o que provoca, o que prende a atenção. A sensualidade não está no toque imediato, mas na construção, na tensão que cresce como uma onda antes de quebrar.
Quando me aproximo, não é invasivo. Meus dedos roçam levemente a mão dele, como se fosse acidental. Um arrepio percorre meu próprio corpo. É parte do jogo: sentir o desejo refletido, ver o efeito que tenho sobre alguém. Ele olha para mim, olhos dilatados, mordendo o lábio. Ele não sabe, mas está totalmente entregue ao ritmo que eu estabeleço.
— Você está confortável? — pergunto, sussurrando quase imperceptível, mas o suficiente para que ele perceba.
— Sim… sim, estou — responde, tentando controlar a voz, mas falhando.
Sorrio de leve. A tensão está crescendo, e isso é delicioso. Eu posso sentir cada batida do coração dele, o peso da expectativa, a vulnerabilidade escondida sob a vaidade e o terno caro. Isso é o que meu trabalho exige: percepção, controle, entrega.
Levo-o até o sofá. Meu corpo roça o dele sem ser explícito, provocando pequenos choques de eletricidade, pequenas faíscas que incendiam a atmosfera. O cheiro do perfume dele mistura-se ao meu, criando um ambiente carregado de antecipação. Cada movimento é um convite silencioso, um desafio velado.
— Você quer que continue? — pergunto, voz baixa, carregada de promessa.
Ele engole em seco. — Sim… por favor.
Essa é a música do meu mundo: desejos não nomeados, vontades proibidas, jogos de poder e rendição. E eu conduzo tudo com precisão. Cada gesto meu é planejado para excitar, mas também para manter a linha entre controle e entrega. Eu nunca perco o domínio, mesmo quando sinto o próprio corpo reagir.
Encosto-me mais perto, apenas o suficiente para que ele perceba o calor, o perfume, a tensão. Nossos olhares se encontram. Não há palavras necessárias. Ele sabe que o que está acontecendo é intenso, que há desejo, mas que é um jogo. E jogos, quando bem conduzidos, são poderosos.
Sento-me de lado, deixando espaço entre nós, mas não completamente. É a proximidade medida que aumenta a urgência. Ele se inclina, hesita, toca minha mão. O contato é elétrico, carregado de ...

