O quarto das vontades – onde o proibido se torna inevitável | LivePorn

O quarto das vontades ? onde o proibido se torna inevitável

Criado em 13/10/2025 19:27

O quarto das vontades ? onde o proibido se torna inevitável

A casa se erguia no alto da colina como um segredo guardado pelo tempo. Suas janelas altas, cobertas por cortinas de veludo vinho, deixavam entrever apenas fragmentos de luz, como se ali dentro habitasse uma respiração antiga, algo que o mundo já tivesse esquecido.

Fui convidada numa noite em que a cidade parecia dormir mais cedo do que o costume. O convite veio em uma carta — escrita à mão, em papel grosso, selado com cera. Não trazia nome, apenas o endereço e uma frase que me fez hesitar diante do espelho por longos minutos:

“Alguns desejos só se revelam quando não há mais ninguém para julgá-los.”

Não havia remetente, nem data. Mas a caligrafia… aquela curva delicada das letras parecia reconhecer algo em mim que eu ainda não sabia nomear.

Cheguei à mansão ao cair da noite. O vento soprava frio, e o perfume das madressilvas envolvia o portão como uma promessa. Um homem de luvas negras abriu a entrada sem dizer palavra. Seus olhos não se demoraram sobre mim, como se já soubesse quem eu era e o que viera buscar.

O corredor principal era iluminado por candelabros. As chamas tremulavam em silêncio, lançando sombras que dançavam sobre os retratos de mulheres emolduradas em dourado. Havia algo nas expressões delas — uma entrega contida, uma doçura tensa — que me fez sentir observada.

No fim do corredor, uma porta semiaberta deixava escapar o som distante de um piano. Notas lentas, quase tristes, escorriam pelo ar como dedos que tocassem a pele.

Quando entrei, o piano silenciou.

Ele estava lá.

Sentado, de costas para mim, diante da janela entreaberta. O vento agitava seus cabelos escuros, e por um instante achei que fosse apenas uma lembrança que o tempo me devolvia. Mas quando ele se virou, senti o corpo inteiro estremecer.

— Achei que não viesse — disse ele, com voz calma, quase um sussurro.

Aquele rosto... não era estranho, mas também não era familiar. Tinha a beleza discreta de algo perigoso. Um misto de serenidade e domínio, como se controlasse não apenas o que dizia, mas também o que eu pensava.

— Eu ainda não sei por que vim — respondi, com sinceridade.

Ele sorriu, aproximando-se devagar, como quem respeita o medo, mas se alimenta dele.
— Porque o desejo, minha cara, raramente pede permissão.

Senti o coração acelerar. A sala parecia respirar junto comigo, e cada detalhe — o som do fogo na lareira, o estalar da madeira, o leve roçar do tecido do meu vestido — ganhava uma nitidez quase indecente.

Ele me estendeu a mão.
— Venha. Há um lugar nesta casa que só se revela a quem ousa atravessar o limite do que é permitido.

Eu hesitei, mas meus dedos já estavam entre os dele. Sua pele era quente, firme. Um toque que não dizia nada, mas prometia tudo.

Subimos uma escadaria em espiral. A cada degrau, a casa se tornava mais silenciosa, como se guardasse a respiração. O ar era denso, impregnado de perfume de madeira e algo mais… algo humano, antigo.

Paramos diante de uma porta. Era de carvalho escuro, e no centro havia uma inscrição gravada em latim. Toquei as letras com a ponta dos dedos — o metal frio me arrepiou até a alma.

Cubiculum voluntatum — ele traduziu. — “O quarto das vontades.”

A porta se abriu sem som.

O que vi não era o que esperava.

O quarto era amplo, com cortinas pesadas e um espelho imenso ao fundo, cercado por velas acesas. No centro, uma poltrona de veludo, uma mesa com uma taça de vinho, e nada mais. Nenhum excesso, nenhuma vulgaridade. Apenas a beleza crua da espera.

Ele me observava em silêncio. Havia algo em seu olhar que me despia sem pressa, como se cada gesto fosse uma confissão.

— Aqui — disse ele, finalmente —, não se fala de culpa. Apenas de vontade.

Fiquei em pé, sem saber o que fazer com as mãos. O som do meu próprio respirar parecia alto demais.
— E se eu não souber o que quero? — perguntei.

Ele se aproximou, parando tão perto que o ar entre nós parecia queimar.
— Então o quarto mostrará. Ele sempre mostra.

Por um instante, senti medo — não dele, mas de mim. Medo do que pudesse descobrir se deixasse o corpo responder antes da razão.

Ele levou a mão ao meu rosto, devagar.
O toque era simples, quase casto, mas me atravessou inteira.
E então, sem dizer mais nada, virou-se, caminhou até a porta e, antes de sair, sussurrou:
— Quando estiver pronta… feche a cortina.

E desapareceu no corredor.

Fiquei sozinha. O silêncio era quase vivo. O vento movia lentamente o tecido das cortinas, e as chamas das velas tremulavam como se esperassem uma decisão.

Olhei para o espelho.
Vi uma mulher que parecia ser eu, mas não era.
Seus olhos brilhavam de uma forma que eu nunca tinha visto antes — nem em mim, nem em ninguém.

Aproximei-me. Toquei o vidro. A imagem tremeu, como se me respondesse.
E então, sem saber por quê, fechei a cortina.

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